2015

Colecção Crescente 2015

A Associação Kulungwana inaugura na Quinta-feira 02 de Abril, às 18h00, na Galeria “Sala de Espera”, na Estação Central dos Caminhos de Ferro em Maputo, a exposição colectiva “COLECÇÃO CRESCENTE 2015”, com curadoria da artista Mieke Oldenburg.

Esta é a 5ª edição deste projecto que tem como seu objectivo impulsionar a criação de novos trabalhos, contando com mais de 100 artistas participantes em total - desde artistas estabelecidos a emergentes e estudantes - número que cresce cada ano. Este ano sugeriu-se um tema aos artistas: “A Vida na Rua” - tema que foi proposto via 'amigos' da Associação Kulungwana no Facebook - convidando os artistas a reflectir sobre este conceito através de diversas técnicas, sobre 3 placas de MDF (madeira prensada) medindo 18 x 18 cm, como em edições prévias da exposição.

Todas as obras serão vendidas ao mesmo preço, como uma iniciativa que tem como seu objectivo principal convidar a todos amantes e curiosos da arte, e todo o público interessado em iniciar ou expandir a sua colecção de arte pessoal, a visitar a exposição.

Como em 2014, esta exposição é acompanhada por um catálogo que inclui uma obra de cada dos 77 artistas participantes, que parte de uma contínua contribuição pela Associação Kulungwana para a publicação de documentação e informação sobre a produção artística no país.

Este projecto conta com o apoio da Moza Banco e a Embaixada do Reino da Noruega.

A exposição estará patente até 16 de Maio de 2015.

Cartaz Nada Como o Tempo Mário Macilau

"Como fotógrafo, acredito no poder das imagens. Exploro as relações entre o ambiente, a humanidade e o tempo. A fotografia associou-me a momentos e experiências incríveis e todos os lugares me ensinaram algo de valioso." MM

NADA COMO O TEMPO

Mário Macilau esteve, nos últimos seis meses, representado em três importantes exposições de relevo no seu posicionamento global. A sua presença como fotógrafo contemporâneo no palco mundial estabeleceu a sua visão de uma humanidade partilhada que não pode ser ignorada. Nas imagens de Macilau, a sobrevivência de comunidades marginalizadas e o efeito da pobreza nas suas vidas é um projecto a longo prazo centrado em condições de vida e ambientais que são simultaneamente vulneráveis e resilientes. As suas imagens impressionam uma visão pública com uma integridade poderosa que existe imagem a imagem entre o fotógrafo e o seu tema impregnado de empatia e não com o voyeurismo passivo que tornou conceituada a visão política das notícias sobre a pobreza. Nascido em Maputo em 1984, formado no Centro de Formação e Documentação Fotográfica, Mário Macilau impulsionou com subtileza as narrativas dos seus temas para um reconhecimento global. Como disse Gabriela Salgado, estas imagens são cruas e belas, fascinantes e desoladoras.

A sua primeira exposição individual em Londres, intitulou-se The Road Not Taken (A Estrada não Utilizada), seguiu-se à sua participação na Saatchi Gallery’s Pangaea, Arte Nova de África e América Latina em 2014. A sua representação no Holy See Pavilion na 56ª Bienal de Veneza In the beginning ... the World became Flesh ( No princípio … o Mundo tornou-se Carne) é, nas palavras do curador do Vaticano Micol Forte “não uma foto-reportagem, mas sim uma obra poética que inverte as ligações entre o agora e o antes, o próximo e o longínquo, o visível e o que não pode ser visto”.

O Łódź Fotofestiwal em 2015 apresentou com relevo Macilau no Discovery Show, uma parte do Festival de Fotografia que apresenta trabalhos de jovens artistas reconhecendo o seu talento e dedicação consistentes.

Os prémios que ganhou incluem o Hasselblad Master Finalist, o BES Fotografia e numerosas residências em África que criaram um volume de trabalho característico em Nairobi, Johannesburg, São Tomé e Ilha Reunião. As suas residências internacionais incluem The Africa Centre Fountainhead Residency Miami, a VISA Pour La Création, a Residency Paris e a Crossing Point Residency Rencontres d’Arles 2012.

Nesta sua segunda apresentação na Kulungwana, Nada Como O Tempo apresenta as marcas do conflito contemporâneo de Moçambique como uma prova do sofrimento que revisitou uma Nação outrora apresentada como o sucesso da resolução pós-conflito em África. Estas não são as únicas imagens do Moçambique de Macilau, na série ‘Momentos de Transição’ exibida no Łódź Fotofestiwal Discovery Show explora o género fotografia de estúdio como retratos e a brincar mistura o estilo contemporâneo com a tradição no modo de vestir de um jovem urbano de Maputo. Descobrindo ou criando sentimentos de identidade que são inspiradores e esteticamente belos. Recorda-nos dicotomias contemporâneas, paz e guerra, vulnerabilidade e segurança, mas principalmente nós, enquanto audiência, somos postos em contacto com cada indivíduo que Macilau fotografa. Desafiando o pessoal e o colectivo na procura do que estas relações com pessoas que vivem na impermanência de uma existência provocadora e marginalizada são para nós enquanto audiência global. Podemos nós esquecer facilmente a jovem mulher coberta de pó de cimento na série O Preço do Cimento, como fantasma transformado em fetiche no sistema de rápido desenvolvimento económico. Mário Macilau tem uma audiência mundial que toca com a sua visão contemporânea de um olhar pessoal e profundamente sentido, o seu enfoque implacável cria imagens de total presença, pessoa a pessoa. Que as suas imagens são ascética e tecnicamente brilhantes coloca o seu trabalho na principal corrente da fotografia contemporânea como uma força essencial de conhecimento.

Esta exposição será inaugurada na Quinta-feira 02 de Julho às 18h00 e estará patente até 25 de Julho de 2015.

Carmen Maria Rapsódia Urbana

Inaugura na Quinta-feira 30 de Julho às 18h00, estando patente até 29 de Agosto 2015.

Colagrafia e uma Interpretação

Desde o surgimento de diversas culturas e suas civilizações, a estampa sempre esteve inserida na reprodução de imagens que ilustram as ideias e pensamentos dos povos. No campo das artes plásticas a imagem ocupou uma posição previlegiada. Desde os primórdios da técnica da gravura, ela sempre tem sido associada as artes plásticas e principalmente ao desenho, uma vez que o papel é normalmente seu suporte definitivo. Este suporte tem suas especividades. Plano, frágil e com suas limitações na conservação e no manuseio. Toda a imagem reproduzida nesta técnica é gravada à partir de uma matriz. Varia apenas a técnica utilizada.

Dentre estas técnicas de gravura estão a xilografia, a gravura em relevo, a gravura em metal ou calcografia, a litografia, o linólio, pochoir, stencil ou estampilha e a monotipia. Os diferentes tipos de denominação e termos aplicados à colagrafia permite estabelecer uma ligação atemporal com as tecnologias associadas a história da gravura.

Porque a Carmen Maria prefere a técnica de colagrafia? Suas qualidades plásticas e flexibilidade na produção da matriz são algumas delas. Esta Técnica que se baseia no método aditivo na qual a matriz é feita em couro ou papelão, e sobre o qual são colados todo o tipo de materiais e metais, para criar a composição. A artista prefere utilizar o papelão como principal material de produção de suas matrizes porque esta técnica permite que tenha multiplicidade de interpretações e associações temáticas com poucos recursos de materiais. O material utilizado como matriz tem características únicas que permite absorsão de cor e impacto na pressão durante o processo de passagem da imagem da matriz para o papel.

Cada tiragem é única e dificilmente se reproduz outra com as mesmas propriedades plásticas. Com a reprodução destas imagens, vem a cor e as marcas da pressão causada pelo processo de passagem da imagem da matriz para o papel. O trabalho é também um produto de acumulação de objectos e materiais.

Com este resultado Carmen Maria tira partido de todas as possibilidades plásticas como a cor, forma, peso e densidade. O trabalho vai além das marcas do seu universo social e cultural. Reflecte a harmonia, o peso, a textura, a densidade e a transparência das imagens.

Jorge Dias | Curador | Julho de 2015

Cartaz Sementes D'Alma - Ídasse

Sementes D'Alma, exposição individual do artista plástico Ídasse, inaugura a 10 de Setembro, às 18 horas na Galeria Sala de Espera da Associação Kulungwana.

Esta mostra integra um conjunto de 17 obras de desenho, pintura e escultura, trabalhadas em diversos materiais e suportes e tem a curadoria de Ciro Pereira.

Dando relevo ao trabalho de grafite s/ papel, este conjunto inclui, também, algumas peças noutras técnicas, apontamentos que dão imagem da diversificada e já vasta Obra do artista.

O catálogo editado contém, para além de reproduções de Obras desta exposição e de dados biográficos do autor, textos de António Cabrita, Calane da Silva e Marcelo Panguana, dos quais destacamos alguns excertos:

No caso de Ídasse, o artista parece, na espantosa capacidade expressiva que o caracteriza, querer iluminar as formas de um bestiário de seres incatalogáveis e certamente sobrenaturalizados, como se procedesse a uma frottage espiritual a partir dos totens dos deuses.
António Cabrita

(…) ao enveredar igualmente pela escultura, modelando com qualidade singular a madeira, o ferro ou o barro, às vezes todos estes elementos numa só obra. Mas esta é, outrossim, uma pequena janela-montra indicadora da grande exposição-vida que se prepara para 2016.
Calane da Silva

Ídasse ressurge agora do silêncio, do afastamento altivo que o manteve longe das luzes da ribalta. Reaparece indiscutivelmente maduro. Mais surpreendente, mágico, inovador, sedutor, um visionário dos nossos tempos.
Marcelo Panguana

A exposição estará patente até 10 de Outubro do presente ano.

Notas biográficas

Ídasse Ekson Malendza, nasceu no Vale do Infulene, em Maputo, em 1955. É um dos cultores da estética no caminho da identidade das artes Plásticas de Moçambique. Pratica Desenho, Pintura, Cerâmica e Escultura. Também tem incursões no domínio da Instalação e do Painel de grandes dimensões.

Teve como professores Manuela Sena, João Paulo e António Bronze. Em 1979 fez o Curso de Animador Cultural no Centro dos Estudos Culturais, com Malangatana e Domingos Manhiça, onde adquiriu conhecimentos de Antropologia, História da Arte Moderna e Arte Africana, Música, Fotografia, Teatro, Pintura, Cerâmica, Desenho e Xilogravura. Sob a orientação de António Quadros completou o Curso de Comunicação Gráfica.

A partir de 1982 passa a dedicar-se exclusivamente às artes visuais. Trabalha no Instituto Nacional de Cinema onde cria o departamento de Arte. Integrou o movimento artístico Charrua. É membro do Núcleo de Arte, da Associação Moçambicana de Fotografia, da Associação de Escritores Moçambicanos e do Movimento “Habitantes de Desenho”.

A obra de Ídasse encontra-se representada em várias colecções em Moçambique e em países como Nigéria, África do Sul, França, Portugal, Espanha, EUA, Itália, Dinamarca, Japão, Áustria, Suécia ou Brasil.

Ao longo da sua carreira, Ídasse participou em mais de uma centena de exposições, integrou vários júris e realizou diversas curadorias. Também participou em vários workshosps e fez várias residências em Moçambique e no estrangeiro.

Clique aqui para mais sobre o artista.

Cartaz REVELAÇÕES Kudzanai Chiurai

Apesar de exposições esgotadas, mostras no estrangeiro e pendurar a sua arte nas paredes do Museu de Arte Moderna de Nova York e nas casas de Elton John e Richard Branson, Chiurai continua genuíno: um observador isolado, que diz claramente a sua verdade. Não surpreende por isso que a sua única agenda futura seja regressar ao Zimbabwe para ensinar arte às crianças. Lu Larché, Mail and Guardian 2012.

Kudzanai Chiruai voltou recentemente a viver em Harare, depois de mais de uma década de ausência. Sendo o primeiro negro a receber um BFA da Universidade de Pretória, manteve um estúdio permanente em Johannesburg a partir do qual baseou a sua prática e ganhou reconhecimento visível como um dos 10 jovens artistas Africanos mais importantes. À questão que lhe foi colocada, porquê? a sua resposta foi simples: Era tempo de voltar para casa. A próxima questão é se Kudzanai, famoso por uma série de cartazes apresentando o presidente Zimbabweano como uma figura demoníaca, encontrará tolerância e espaço para trabalhar no Zimbabwe, onde uma nova constituição abafa a liberdade de expressão e onde tem ainda de ser testada pelos artistas nacionais.

Nascido no Zimbabwe pós-independente, Kudzanai Chiurai tem sido descrito como um poeta, um activista e um filósofo cultural que se empenha em questões políticas e sociais na sua multifacetada prática multimédia. Reconhecido principalmente como pintor, Chiurai trabalha com fotografia, texto, instalação de som e vídeo/filme. A fluidez com que trabalha abrange o hip-hop, a arte de rua, a cultura jovem e os graffiti. Explora temas do espaço urbano, com a experiência psicológica e física do centro da cidade de Johannesburg, onde sobrevivem exilados, refugiados e os que buscam asilo. Os seus temas versam as grandes questões contemporâneas da xenofobia e deslocação, bem como a natureza política construída dos Estados Africanos e o desempenho dos líderes, usando personagens estereotipadas como se fossem narrativas de novela.

Esta diversidade de meios e expressões reflecte como o envolvimento de Chiruai com a experiência urbana Africana é uma temática integrada e uma resposta estética ao tecido social urbano que está a ser recriado na sua contemporaneidade, moldando novas sociedades em velhos cenários. A sua imagística é a de uma África distópica, definida por conflitos onde a Utopia era a promessa do estado pós democrático, pós colonial. Questionando o poder e os seus significados no Continente Africano contemporâneo, Kudzanai sugere "Você não pode fugir à política, tudo é política no sentido de como somos socializados."

A África de Chiurai, tanto na ficção como na realidade, reflectiu-se no seu trabalho que é intrigante porque é enigmático. Usa imagens que são de imediato reconhecíveis de zonas de conflito até todos os detritos da vida de rua urbana, tornando-os ícones contemporâneos e artefactos e o uso de tecidos como motivos de identidade. É num sentido um teatro do absurdo e noutro uma reflexão sobre a história pós-colonial de África.

Da sua série Revelações aqui mostrada na Galeria Kulungwana, Kudzanai revela:

A parte principal das minhas fotografias, Revelações, começou em 2011, explorando a forma como África é imaginada e compreendida no Ocidente, bem como questionando a condição da África contemporânea, através da justaposição do passado e do presente de um continente constantemente dominado por violentas guerras civis. Estes ambientes construídos são atraentes e sedutores mas exploram acidentes muito reais da independência e democracia em África e os efeitos da globalização sobre a guerra.

Chiurai foi comissariado para a dOCUMENTA (13) em 2102 e a Art Basel e a Bienal de Dakar no mesmo ano. Além disso ganhou o FNB Art Prize. Está representado na colecção do MOMA de Nova York, da BHP Billiton, Londres, na Colecção de Arte Africana Contemporânea Jean Pigozzi, na Galeria Nacional Iziko na Cidade do Cabo, na Zeitz MOCAA, Cidade do Cabo e de muitos coleccionadores privados proeminentes. Em 2015 foi apresentado pelo Pavilhão de Johannesburg na 56ª Bienal de Veneza. A sua exposição, mostrando a instalação fotográfica Revelações e o trabalho em vídeo Moyo, é a primeira de Kudzanai Chiruai em Moçambique, apresentada no âmbito de programa de intercâmbio cultural da Associação Kulungwana.

Para leitura posterior
artthrob.co.za/Artbio/Kudzanai_Chiurai_by_Anna_Stielau.aspx